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resenha
eu e lau e eu: o futuro está (mesmo) distante_
resenha feita a partir do ep “o futuro está distante” de Lau e Eu.
que você pode ouvir no player abaixo:
Eu conheci o Lau e Eu há alguns anos, provavelmente por alguma indicação algorítmica do YouTube. Eu assisti primeiro Macabéa (e Eu ficava cantarolando por aí: café frio ninguém quer, café frio ninguém quer...). Depois Eu ouvi o lançamento do Selma (em um momento que Eu estava a descobrir os motivos para estar vivo). E, neste mês, Eu esperei pela estreia d’O futuro está distante.
Eu não sou um escritor da música.
Lau e Eu, é.
Mas queria, Eu mesmo, tentar fazer uma resenha.
Um ep que se lança com um manifesto e um curta, me pede isso.
Ou Eu peço isso a um álbum.
Poderia citar Goethe em uma irritante comparação que parece ter virado moda nesse tipo de escrita. Dizer que, em “Os sofrimentos de Jovem Werther”, o autor escreve que “Acontece com a distância o mesmo que acontece com o futuro: um todo imenso, e como que envolvido por uma neblina, estende-se diante de nossa alma; nosso coração ali mergulha e se perde, da mesma forma que nossos olhos, e ardentemente aspiramos anos abandonar por completo, deixando-nos impregnar de um sentimento único, sublime, delicioso...”
Mas fica pequeno!
Mais que resenha, o que Eu consigo fazer com Lau e Eu é me inspirar a criar em uma co-composição.
Mais que apresentar, tentar sentipensar e praticar isso que Lau e Eu faz com os sonhos, as palavras, os tempos e os espaços.

01. Trans-Parente Como Sempre Foi
para te dizer que
não há dúvidas que está
não há dúvidas que começa no instante que falamos sobre isso
não há dúvidas que é tão longe quanto o passado
não há dúvidas que seria preciso atravessar o atlântico em linha reta e demorar alguns tantos marcadores de tempo para nos darmos conta de toda essa distância e poder sentir um pouco melhor que antes
não há dúvidas disso que não nos pode tocar
não há dúvida do rastro
do resto
é só questionamento se distante pra dentro ou pra fora

02. Se O Nosso Amor Fosse São Paulo
amor
sobre os questionamentos
temos aqui o problema da distância
daquilo que está entre nós
da barreira de cinza e concreto entre nós
do espaço que vem acumulando
e temos ainda esse teu jeito de falar
esse teu irritante e provocante jeito de usar os dentes
eu odeio esse teu jeito de tirar uma ofensa da boca
eu odeio esse teu jeito de tirar uma navalha da boca
eu odeio esse teu jeito de tirar um rifle da boca
eu odeio esse teu jeito de tirar um uma mensagem não respondida às 3h47min da madrugada da boca

03. Você seria o Tietê
mas que droga,
você me faz parecer aqueles desenhos animados de sábado cedo
que a gente acordava
e nunca nada acontecia

04. Fiquei ali pensando
que às vezes é melhor ser breve
e
tentar
encurtar
as distâncias
cansar dessa coisa
de distante

05. Seu corpo vermelho de sol
o cotidiano tem cores
mesmo aqueles
das noites frias
o cinza também uma cor
as relações cinzas também são relações

06. O Futuro está distante
sentipensar uma história de um passado
sentipensar um futuro
inventar possíveis
contigo

07. Ontem à noite eu tava muito mal
ou aquilo que podemos criar enquanto lutamos para não cochilar em uma linha e no balanço de uma linha. ou aquilo que nossos cochilos nos dizem enquanto estamos a caminho. ou aquilo que acontece quando nos perdemos e buscamos informações em corpos de uma cor só. ou aquilo que as luzes e o piscar ritmado das luzes quando a noitece nos postes podem significar em código morse. ou aquilo faço enquanto te espero. ou aquilo que sai pelo ralo quando pintamos o cabelo no banheiro da escola com material de secretaria. ou aquilo que atravessa minha afinação. ou aquilo que se dá do nosso (re)encontro.

08. O Futuro está chegando Pt2
você está muito à frente
muito mais preparado que eu
para o que sei que vai acontecer
você se movimenta pelas notas
de uma forma que é invejável
de uma forma
que talvez só uma maré ia conseguir
ou uma pequena cantora mirim
você
com teu irritante jeito de ir embora
e encurtar a vida

09. Amor Cê Me Fudeu
eu não ouso escrever mais nada
eu não preciso falar mais nada
eu não tenho a coragem de mais nada
sobre você
ou para você
e isso parece dizer muito de alguém que foi ensinado a vida toda a ter opinião sobre tudo.
(Porra Lau e Eu, dessa vez cê me fudeu.)
texto e ilustrações: neilton dos reis, editor.