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editorial
o que quer dizer estar bem né?!_
Quem está na internet pós-2010, sabe do que estamos falando.
É que teve boatos que ainda estava na pior!
Luísa Marilac nos entregou um dos maiores memes lgbtqia+ da nossa geração.
Sim, com a travesti de biquíni que toma seus bons drinks naquele verão da Europa aprendemos que se aquilo é estar na pior... porraaahn!!! O que quer dizer estar bem, né?!
E não apenas!
Aprendemos a entender que outras histórias podem ser contadas, por outras pessoas, por outros corpos, por outras vozes.
Que mesmo aqui no Brasil, num dos países que mais nos violentam; mesmo frequentando religiões que dizem o contrário; mesmo enfrentando tantas coisas nas escolas, trabalhos, ruas e famílias; mesmo sendo encharcadas de mídias que não são feitas pra nós ou por nós; aprendemos que temos a criatividade de ressignificar e de não ficar na pior.

E, bem, se uma consegue sair da pior, quem dirá um bando!
Foi entre os anos de 2014 e 2017 que nós, o bando de bichas e tantas outras formas de ser e estar no mundo, ficamos de cochichos e berros pelos cantos e pelos palcos de Juiz de Fora/MG sob o nome de Coletivo da Diversidade Sexual e de Gênero Duas Cabeças.
Quando lembro do Coletivo, lembro de um “nós”, uma revoada.
Andando, dançando, voando por aí.
Multiplicando ideias, afetos e prazeres entre as nossas e quem mais contagiasse.
Ah, fizemos tanta coisa que nem daria pra contar.
(Não?).
É aqui que queremos desembolar isso.
Seda na mão, essa é uma plataforma que se dedica a discutir gênero & sexualidade & quantas conexões forem possíveis a partir da produção de memórias sobre o Coletivo. A revista_ duas cabeças leva o seu nome como uma homenagem, não necessariamente uma continuação (ainda que seja, em certa medida).
Escrevemos pra todas as que conheceram o Coletivo. E pra quem está conhecendo agora.
Pra todas as que sonharam com um Coletivo. E pra quem ainda sonha.
Pra todas nós. E todas as que não somos também.
Escrevemos porque insistimos em colocar nossas vozes e nossos corpos.
As vozes e corpos de muitas.
Vozes de gritos. Vozes de silêncios.
Corpos que tem muito a dizer. Corpos que gritam de dor e gozo.
Vozes de sussurro.
Corpos que sabem o que quer. Corpos que ainda estão pra descobrir.
Vozes juntas num falatório que vira música.
E também todas juntas, em silêncio, escutando, acolhendo.
Nesse rolo de vozes e corpos, a forma de operar é simples: fazemos nossos bons drinks e promovemos encontros. Conversamos sobre nós, sobre experiências, sobre identidades, amores, transas.
Na conversa, a revista_ já é escrita, o coletivo já é vivo. E por aqui vamos estendendo o espaço dos nossos debates, reflexões e sentipensares.
O que temos feito? O que temos deixado de fazer? Como temos feito? Como temos sentido? Como temos pensado? Como temos evitado as mortes? O que temos feito com as vidas?
Em que temos insistido?
Porque é uma insistência!
Insistência em falar.
Insistência em ouvir.
Insistência em dar as mãos.
Insistência em comungar com a luta.
Insistência em fazer festa.
Insistência.
Insistência.
Insistência.
Todo dia quando acordamos e quando tentamos um jeito bom pra dormir.
Quando estamos na rua e quando estamos em casa.
Insistência porque às vezes cansa, sabe.
Insistência em existir, em gente.
Insistência em afirmar que não estamos na pior!
Queremos, por isso, descobrir nessa revista_, o que quer dizer estar bem? Queremos produzir conteúdo relevante para lgbtqia+. (E também pra quem não é lgbtqia+).
Queremos fazer uma coisa diferente nessa estação: nos arrumar com o melhor look, preparar uns bons drinks, soltar a voz, montar um corpo, dar um mergulho, pegar um sol.
Não estar na pior tem disso, tem um brilho.
E daí, vem brilhar junto, vem!

texto e ilustrações: neilton dos reis, editor.